19.4.12

O céu cobriu-se de nuvens. À janela estava eu e um sopro forte vindo de lá de cima, puxei do meu cigarro e esqueci-me que sempre precisei de alguém que mo acendesse, e ali teria de faze-lo sozinha. Olhava em volta e não te via a sorrires e a perguntares se queria que fumasses um comigo, ou se queria ajuda para alguma coisa, pergunta irónica a tua. Mas cada vez que essa pergunta surgia relembravas-me que o mundo pára para te ver passar. E sempre foi assim géry, sempre te moldei às pontas dos meus dedos, como moldava um cigarro em dias de chuva, quando fumava mais o vento do que eu, teria sempre de ficar na agonia de um novo. Mas não te comparo a nada, a medida que as tuas mãos me enchem o bolso do casaco é indiscutivel. Tens as mãos grossas, mas macias. Por vezes gosto de me perder nelas, ou talvez gosto sempre. Enquanto o vento me levava as pontas do cabelo para fora da janela, eu escutava os passos de alguém que não estava ali. Alguém que me soube deixar pelo caminho e não me avisou. Tens razão quando dizes que o amor é um pecado ao qual todos caimos nele. Oh se caímos. Eu perco-me nele até, porque ele és tu, e eu sempre me perdi em ti, até no sofá da minha sala, na explanada do café, em qualquer lado... eu perco-me sempre em ti. Eram fortes os passos que me ocupavam a mente e me deixavam louca por pensar que iriam vir ao meu encontro e acabavam sempre por recuar - parecendo-me a mim - ficavam presos lá atrás, onde os meus olhos não atingissem. As mãos pingavam de gotas de chuva, e deslizava os meus dedos pela minha cara, como se fosses tu que me tocasses por detrás da orelha. Esqueci-me por momentos que não estavas ali, lembrei-me do teu cheiro e da forma como mexias no cabelo. De todas as tuas perguntas inesperadas, e dos teus abraços longos... a minha alma puxava por mim, puxava por ti, esperava-nos. Porque sempre fomos um encanto, mais do que namorados de esquina, mais do que trocas de beijos, e mais do que lencois marcados de amor... sempre fomos nós, à nossa maneira. E aí deixava cair o cigarro, pela janela, marcou-se numa poça lá em baixo, onde escrevia o teu nome. O teu reflexo via-se de longe, e eu imaginava-me de novo de mãos dadas, de respiração travada e de suor nas costas. Imaginava-me de novo com marcas de alguém que me mostrou o céu.

5 commentaires:

Anonyme a dit…

sabes querida, não devias ter medo de alguém que escreve com a alma, e de coração aberto como tu o fazes. (: aprende a lutar contra as tuas inseguranças, aprende, não desistas. luta sempre sempre por ti.**

inês a dit…

ohh, que doce de texto

Dahliaw a dit…

Gostei tanto, tanto, tanto. Tem um toque tão puro, tão especial.

Anonyme a dit…

minha querida está fantástico

Liv. a dit…

adoro o blog, sigo-te *.*