Escrevo-te agora. Com saudade. Ou talvez não. Talvez me sinta mais com medo de perder o ninho onde me instalaste à uns anos, onde eu me sentia fora dos precipícios, sentia-me de braços abertos para te abraçar a cada hora do dia. Ou até para abraçar a vida... que nessa altura não me mostrava o céu tão negro. Porque tu estavas lá. O meu porto de abrigo que me acolhia nas noites mais frias, e me embrulhava na areia em dias de verão, em que o calor se instalava horas a fio. Eras isso e muito deste mundo e como se costuma dizer "deste mundo e do outro". Mas eu não quero que penses que conjuguei o verbo no passado por ser isso mesmo, por tu seres isso mesmo.. passado. Podes até ser, posso até não sorrir mais pelo teu sorriso, ou chorar mais pelas tuas palavras que me arrepiam o corpo. Posso até não ser mais tua, nem tu seres mais meu. Só que o que não pode fazer parte do passado é o que ainda me faz chamar-te todas as noites, em que olho para o céu e vejo que ele não tem mais mil cores. Está partido em dois, como eu, no interior de mim. Apenas tento dizer-lhe que eu não estou sozinha. E que tu, mesmo que não estejas a olhá-lo do mesmo sitio que eu, estás por ai... Onde eu te consigo sentir. Será assim até querer-mos.